sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"BONSAI", ALEJANDRO ZAMBRA - ED. COSAC NAIFY



Bonsai é a história de um amor, o de Julio e Emilia, e é a história do fim deste amor. É também uma história sobre a consciência do fim. E não apenas para Emilia e Julio, “jovens tristes que leem romances juntos, que acordam com livros perdidos entre as cobertas”, mas para nós, leitores, que na primeira linha desta história falsamente simples recebemos a notícia: “No final ela morre e ele fica sozinho”. Romance de estreia do chileno Alejandro Zambra (1975), Bonsai coloca em cena dois estudantes de Letras, suas leituras, encontros e desencontros. Com cortes precisos e apurado sentido formal, Zambra – eleito pela revista britânica Granta como um dos vinte e dois melhores jovens escritores hispanoamericanos – faz a trama avançar como se cultivasse um bonsai. Traduzido em dez países, entre eles França, Itália, China, Israel, Estados Unidos e Japão, Bonsai ganhou o Prêmio da Crítica e o Prêmio do Conselho Nacional do Livro como melhor romance de 2006 em seu país.


(Sinopse retirada http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11550/Bonsai.aspx)



Trechos e frases:


"Julio fugia dos relacionamentos sérios, não se escondia das mulheres, mas da seriedade, pois sabia que a seriedade era tanto ou mais perigosa que as mulheres. Julio sabia que estava condenado à seriedade, e tentava, obstinadamente, torcer seu destino sério, passar o tempo na estoica espera daquele espantoso e inevitável dia em que a seriedade chegaria para se instalar para sempre na sua vida."


"Esta é a história de dois estudante devotados à verdade, a dispensar frases que parecem verdadeiras, a fumar cigarros eternos e a se fechar na violenta complacência dos que se creem melhores, mais puros do que o resto, do que esse imenso e desprezível grupo que chamam de o resto."


"Qual o sentido de ficar com alguém se essa pessoa não muda a sua vida?"


"E eu continuo sendo do avesso, sempre fui do avesso, e agora quem sabe eu lhe conte que em Madri fiquei ainda mais do avesso, completamente do avesso."


"Quando eu era jovem eu me sentia em desvantagem, e agora também. Ser velho também é uma desvantagem. Porque nós, os velhos, somos frágeis e não precisamos só dos agrados dos jovens, precisamos, no fundo, de seu sangue. Um velho precisa de muito sangue, escreva ou não escreva romances."


"Decidiram comprar um bonsai para simbolizar o amor imenso que os unia."


"Cuidar de um bonsai é como escrever, pensa Julio. Escrever é como cuidar de um bonsai..."



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

"EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS", MARÇAL AQUINO - COMPANHIA DAS LETRAS



No momento em que narra os fatos de 'Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios', o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará (repleta de garimpeiros, comerciantes inescrupulosos, prostitutas e assassinos de aluguel) que algum tempo antes fora palco de uma corrida do ouro, 

Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo - mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico que no passado havia tirado ela das ruas e das drogas. 

A história conta também com os personagens Chang, um comerciante pedófilo; o misterioso Viktor Laurence, jornalista local; Dona Jane, proprietária da pensão; Seu Altino que há muitos anos mora na pensão; um garoto da redondeza que passa horas sentado na escadaria para ouvir as histórias de Seu Altino e as conversas alheias,quieto mas com ideias tilintando pela cabeça; entre outros.

Mesmo diante de todos os riscos que vão aparecendo no decorrer da história, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos. 'Nunca acreditei no diabo', diz ele, 'apenas em pessoas seduzidas pelo mal.'"

Apesar da intensidade e do peso de algumas passagens o livro é grandioso, são histórias de amores intensos e pecados descabidos, de normalidade e loucura que se intercalam entre os personagens. E o final é realmente emocionante!



Trechos e frases:



"O segredo, dizia Chang, o china da loja, não é descobrir o que as pessoas escondem, e sim entender o que elas mostram."

"... não é possível determinar o momento exato em que uma pessoa se apaixona. Se fosse, ele afirma, bastaria um termômetro para comprovar sua teoria de que, nesse instante, a temperatura corporal se eleva vários graus. Uma febre, nossa única sequela divina."

"Eu digo que está tudo bem, que não preciso de nada. Estou mentindo. Preciso de muita coisa, em especial numa noite como esta, em que Urano desliza mansamente pelo céu escuro."

"... a natureza do amor, de não nos permitir escolher por quem nos apaixonamos, é uma rota que pode conduzir à ruína."

"A grande desgraça é que as lembranças não bastam para confortar os amantes. Nunca aplacam. Ao contrário: servem só para espicaçar as chagas daqueles que foram condenados à lepra do amor não correspondido."

"Talvez, talvez. No reino amoroso, o professor Schianberg ensina, o "talvez" é moeda sem nenhum valor. Talvez se eu tivesse perdido aquele avião, talvez se não tivesse tomado aquele trem, quando ainda existiam trens."

"Ela me abraçou e encostou a cabeça em meu peito, bem em cima do meu coração atropelado."

"Adorava cinema. Se pudesse, passaria boa parte da vida dentro de uma sala escura. Era seu jeito de sonhar."

"Mostrei-lhe Truffaut, Meden, Mehldau, Murilo e Drummond. Falei de Cappa, de Kertèsz, de Richard Kern, de Eric Fischl e de outro malucos que andaram e ainda andam por aí atrás de poesia. Meus heróis. Mostrei-lhe um mundo, o meu mundo.E me assustei com o mundo que ela me mostrou."

"Apaixonados, ele diz, pensam que estão sempre a sós com o mundo. É um engano: estão apenas ofuscados pela luz que eles próprios emitem."

"Nunca prometemos nada um ao outro, e eu sabia que podia acabar de repente. Poema que cessa antes de virar a página. Um haikai."

"Um reencontro de corpos, o reconhecimento de um terreno nunca decifrado por completo. Mas não demorou para esquentar, e quando vi estávamos à beira do precipício. Meu orgasmo chegou como uma dor."

"Atire a primeira pedra aquele que não estremeceu ao recuperar, nos lençóis encardidos da cama em que dorme solitário, o cheiro da mulher ausente."

"...o desejo de se apossar por completo do outro é uma das doenças mais comuns do amor. É o resfriado das moléstias amorosas, segundo ele. O problema, Schianberg escreveu, é permitir que se transforme em gripe crônica. Costuma ser letal."

"Ernani tinha apreço por palavrões. Existiam momentos, ele acreditava, que só um bom expletivo podia extravasar de maneira adequada a cólera ou uma contrariedade. Bem melhor do que represar dentro de si o veneno de uma explosão adiada."

"Podia não amá-lo mas sentia-se amada, o que é bom, como sabe até mesmo o mais sarnento dos cachorros de rua."

"Muitas vezes, entre os amantes, em adição às afinidades do corpo, surge uma sintonia mental, intelectual, que ao propiciar jogos, provocações e brincadeiras privados acentua ainda mais o caráter . de cumplicidade na relação. Casais costumam estabelecer espaços particulares de comunicação, inacessíveis ao restante da manada humana ao redor. Intimidade psíquica."

"O que acontece é que quando estou com você, eu me perdoo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta."

"Nada me fazia falta naquele momento e nada do que eu tinha era excessivo. E nunca me senti tão alegre (e tão sozinho) na vida."

"É fácil imaginá-lo sentado de roupão à mesa colonial da sala, xícara fumegante de chá inglês ao lado, a pele da mão ainda mais amarelada pela luz do abajur, escrevendo com sua caligrafia rebuscada, cheia de floreios, rodeado por livros que, dá para afirmar sem medo de engano, ele amou muito mais do que as pessoas que conheceu no mundo."

"O professor Benjamim Schianberg, o homem que dizia ocupar-se das "fezes da alma", escreveu que nos alimentamos tanto do bem quanto do mórbido. No meio disso, ele assunta, existe a poesia."

"Falamos, falamos, falamos. E mesmo assim faltou dizer tanta coisa. E escutar também. Ela nunca disse que me amava. Jamais ouvi de seus lindos lábios a sentença que pronunciei algumas vezes."

"O careca não cansa de repetir que a esperança é o pior dos venenos? É. Porém muitas vezes é também o único remédio."

"Faço parte de uma ínfima minoria, integrada por monges trapistas, alguns matemáticos, noviças abobadas e uns poucos artistas, gente conservada na calda da mansidão à custa de poesia ou barbitúricos. Um clube de dementes de categorias variadas, malucos de diversos calibres. Gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro àquilo que consagraram como objeto de culto e devoção. Para viver num estado de excitação constante, confinados num território particular, incandescente, vedado aos demais. Uma reserva de sonho contra tudo que não é doce, sutil ou sereno. É o mais próximo da felicidade que podemos experimentar..."






quinta-feira, 23 de julho de 2015

"ROMPENDO O SILÊNCIO UMA POETA DIANTE DO HORROR EM RUANDA, NO CONGO ORIENTAL E NA PALESTINA/ISRAEL", ALICE WALKER - BERTRAND BRASIL



Alice Walker tem a voz supreendentemente suave para o discurso incisivo e a luta que trava no Movimento pelos Direitos Cívicos e pelos direitos das mulheres, em particular contra as mutilações que lhes são impostas. Em todo o mundo, ela é a conhecida autora negra, nascida em 1944 no sul dos EUA, que venceu a pobreza com bolsas de estudo e escreveu A Cor Púrpura (José Olympio, 1982), livro sobre racismo e superação.
A obra lhe rendeu prêmios importantes, como o Pulitzer e o National Book Award, e foi adaptada por Steven Spielberg para o cinema – o filme foi indicado a 11 Oscars e ficou sem nenhum, frustração que só ampliou sua ressonância.
Os brasileiros podem tê-la perdido um pouco de vista desde então, mas sua trajetória prosseguiu com a publicação de mais de três dezenas de livros de ficção, poesia e ensaios, a criação de uma editora militante, a Wild Trees Press, e uma atuação por vezes ruidosa pelos direitos civis – chegou a ser presa, mas logo solta, por protestar contra a atuação americana na Faixa de Gaza em 2003.
“Nada, entre prêmios e fama, é mais importante do que o que sinto e quero dizer em defesa das minorias em todo o mundo”, explica a autora em entrevista dada a revista CULT, por telefone.
Rompendo o Silêncio  Uma Poeta Diante do Horror em Ruanda, no Congo Oriental e na Palestina/Israel (Bertrand Brasil) combina um pouco de história e muitos depoimentos, conta como sobrevivem habitantes de regiões da África e do Oriente Médio que a autora visitou entre 2006 e 2009.

Trechos e frases:


"A guerra continua como uma doença para a qual ainda não se descobriu a cura."


"O que aconteceu com a humanidade? ... o que quer que estivesse acontecendo com a humanidade, estava acontecendo com todos nós."


"Não importa se a crueldade está oculta; não importa se os gritos de dor e terror estão distantes. Vivemos em um único mundo. Somos um único povo."


"Construir e ter um lar é um instinto primário do gênero humano, em toda a natureza..."


"Essa é uma das passagens mais belas para os seres humanos. É como se entrássemos por uma porta diferente da nossa realidade - quando alguém dá sua vida por nós. Por que isso ocorre é um mistério, mas é o mistério, eu acredito, por trás de todos os grandes mitos nos quais há sacrifício humano - não sobre um altar, mas na estrada, na rua - para o bem comum."


"Quando eu morava na Eatonton segregada, na Geórgia, costumava respirar aliviada somente na minha própria vizinhança, somente na parte negra da cidade. Nos outros locais, era muito perigoso. Um amigo fora espancado e jogado na prisão por ajudar uma garota uma garota branca, em plena luz do dia, a consertar a corrente da bicicleta."


"Onde estão
  Os Pais de Todas as Crianças?
  Os Protetores Mundiais de Todos os Doentes?"


"Esse é o legado das pessoas criadas na tradição cristã, verdadeiros crentes em cada palavra que Jesus proferiu sobre questões de justiça, misericórdia e paz. Isso se ajusta perfeitamente ao que aprendemos acerca da não violência de Gandhi, trazida para o movimento pelos direitos civis por Bayard Rustin, um estrategista gay. Muito se pensou sobre como criar "a comunidade amada", de modo que nosso país não fosse tomado por um ódio violento entre brancos e negros e pelo espetáculo - e sofrimento - contínuo de comunidades irrompendo em chamas. O progresso tem sido impressionante, e sempre amarei os habitantes do Sul - brancos e negros - pelo modo como cresceram. Ironicamente, mesmo com tanto sofrimento e desespero enquanto a luta por justiça nos testava, é nessa parte muito "atrasada" de nosso país que podemos encontrar atualmente a assistência, a consideração e a cortesia desinteressada."


"... nossos pais nos ensinavam a pensar nos racistas como pensávamos em outra catástrofe qualquer: deveríamos lidar com o desastre da melhor maneira possível, mas não aderir a ele, permitindo-nos odiar."


"Não odiamos os israelenses, Alice, diz ela serenamente. O que odiamos é ser bombardeados, ver nossas crianças vivendo com medo, enterrá-las, morrer de fome e ser expulsos de nossa terra. Odiamos gritar eternamente para o mundo abrir os olhos e ouvidos para a verdade do que está ocorrendo e ser ignorados. Mas não odiamos os israelenses."


"Sem preâmbulos, fui arrastada por várias mulheres ao mesmo tempo, e a dança começou. Tristeza, perda, dor, sofrimento, tudo foi pisoteado durante mais de uma hora. O suor escorria, bem como o pranto e as lágrimas, por toda a sala. E, então, deu-se o renascimento que sempre resulta de danças como aquela: a sensação de alegria, unidade, solidariedade e gratidão por se estar no melhor lugar que se poderia estar na Terra, com irmãs que tinham vivido intensamente o desastre e desejavam elevar-se acima de tudo aquilo."


"... ferir propositadamente qualquer um de nós significa prejudicar a todos nós."


"... a avareza e a brutalidade não estão limitadas a nenhum segmento da humanidade, mas crescerão em qualquer sociedade onde não sejam reprimidas."


"... promover a liberdade de outros liberta a nós mesmos."




domingo, 19 de julho de 2015

"ESTÓRIAS ABENSONHADAS", MIA COUTO - COMPANHIA DAS LETRAS



Depois de quase trinta anos de guerra, Moçambique vive agora um período de paz. Nestas Estórias abensonhadas, o premiado escritor Mia Couto capta um país em transição. Numa prosa poética e carregada das tradições orais africanas, o autor tece pequenas fábulas e registros que, sem irromper em grandes acontecimentos, capturam os movimentos íntimos dessa passagem.

Aqui, fantasia e realidade se entrelaçam e se impõem uma à outra, como num reflexo do próprio continente africano. O rio que atravessa essas veredas é a prosa de Mia Couto. Frequentemente comparada à de Guimarães Rosa e Gabriel Garcia Márquez, sua escrita transforma o falar das ruas em poesia, e carrega de magia a dura realidade de seu país. As palavras se combinam em inúmeros significados, e no menor dos enredos cabe tanto o lirismo quanto a guerra.





Trechos e Frases:



"Neste lugar não há pedacitos. Todo o tempo, a partir daqui, são eternidades."
  

"...nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos."


"Meus olhos se neblinaram até que se poentaram as visões."


"O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo: -Tenho que viver já, senão esqueço-me."


"Aflição é ter um pássaro branco esvoando dentro do sono."


"... escuta, meu irmão, escuta este silêncio. O erro da pessoa é pensar que os silêncios são todos iguais. Enquanto não: há distintas qualidades de silêncio. É assim o escuro, este nada apagado que estes meus olhos tocam: cada um é um, desbotado à sua maneira."


"A solidão lhe doía como torcicolo em pescoço de girafa."


"O pouco se fazia tudo e o instante transbordava eternidades."


"A mulher, subvivente, somava tanta espera que já esquecera o que esperava. Justino guardava ferrovias, seu tempo se amalgava, fumo dos fumos, ponteiro encravado em seu coração. Entre marido e mulher o tempo metera a colher, rançoso roubador de espantos. Sobrara o pasto dos cansaços, desnamoros, ramerrames. O amor, afinal, que utilidade tem?"


"A lágrima é água e só água lava tristeza."


"As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor concede eternidades."


"A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?"


"Toda a estória se quer fingir verdade. Mas a palavra é um fumo, leve demais para se prender na vigente realidade. Toda a verdade aspira ser estória. Os factos sonham ser palavra, perfumes fugindo do mundo."


"Sua única substância foi um suspiro."


"De noite, os seres mudam seu valor. O dia mostra os defeitos do mundo: rugas, poeiras, vincos, tudo na luz se vê. À noite se olha mais, se vê menos. Cada ser se revela apenas pela luz que dele emana."


"Toda madrugada confirma: nada , neste mundo, acontece num súbito."


"Neste tempo uterino o mundo é interino."


"Para sonhar o menino tinha que sangrar."


"Onde há uma palmeira sempre deve ser inventado um mar..."


"O medo é um rio que se atravessa molhado."


"O avesso da vida não é a morte mas uma outra dimensão da existência."


"Cada homem tem suas paixões viscerando-lhe dentro. Eu entrarei em ti para que não haja despedida, carne em carne."


"O sentimento, dizia ele, não tem logaritmo. Por isso, nem se justifica a sua equação."


"Não me intriga a voz visível mas a outra, silenciosa, subcorpórea, capaz de tantas linguagens como a água. Outrodizendo: eu quero adivinhar é os gemidos delas, esse resvalar de asas na frente do abismo, o arrepio da alma perdendo morada."


"Beijo não se dá nem se recebe. A vida é que beija, recíproca. Repito, mano: a vida é que nos beija, dois seres se resumindo num único infinito."


"Corpo de mulher não basta ter qualidades: é preciso ter qualificações."


"... nos amores sexuais não há macho nem fêmea. Os dois amantes se fundem num único e bipartido ser."


"Me formei em tristezas, sou cursada. A dor o que é? A dor é uma estrada: você anda por ela, no adiante da sua lonjura, para chegar a um outro lado. E esse lado é uma parte de nós que não conhecemos. Eu, por exemplo, já viajei muito dentro de mim..."


"Sofro, afinal, a doença da poesia: sonho lugares em que nunca estive, acredito só no que não se pode provar."


"A gente se desmoça só de tocar a atmosfera."


"A vida é água endurecendo a pedra. Afinal, requer-se fartura de coração."


"Escrevo como Deus: direito mas sem pauta. Quem me ler que desentorte as palavras."


"Certas felicidades só chegam com o não saber."


"Poesia não sara quem a vida não consola."


"Mas as belezas se subtraem: a gente vê a borboleta e esquece a flor."



quarta-feira, 27 de maio de 2015

"MADAME BOVARY", GUSTAVE FLAUBERT - ED. MARTIN CLARET



Madame Bovary  de Gustave Flaubert é um romance intenso que resultou num escândalo ao ser publicado em 1857.
O livro é considerado pioneiro dentre os romances realistas. Quando foi lançado, houve na França um grande interesse pelo romance, pois levou seu autor a julgamento devido à dura depreciação dos valores burgueses, sendo ele acusado de “imoralidade”.
Uma obra da qual tenho imenso apreço, pois além ser um dos grandes clássicos da literatura, sinto grande fascínio pelos romances e autores realistas.


Trechos e frases:




“Procuro nos búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais cética, mais durona, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz. É sempre mais fácil culpar o autosabotamento com signos do zodíaco ou algo que se preze, do que entender que você, independente de onde marte esteja neste exato momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde dói. 
(...) 
O amor que tanto se proclama, dessa busca e espera infindável, "que chegue e será bem vindo, que será esperado" que some em alguns meses, que se sobrepõe na esquina por um outro qualquer, por essa falta, esse buraco no estômago, essa fome de se sentir amado, de se sentir querido, de se sentir seguro, quando amor é nada além da sensação de estar caindo e não saber onde se segurar.
E por isso eu culpo toda e qualquer manifestação esotérica, pelo meu amor volúvel que vai para qualquer pessoa que me desperte algo que valha terminar o dia, e sendo assim é mais fácil despejar em alguma coisa impalpável a minha incapacidade de ser como o resto das pessoas.
Porque eu nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de não descartar nada me faz voltar para casa depois de me apaixonar a cada esquina, e querer uma cama só.
Eu me machuco pra saber onde dói, mas hoje sei exatamente que parte de mim sente mais falta dele. Tudo.”





domingo, 3 de maio de 2015

"LAVOURA ARCAICA", RADUAN NASSAR - ED. COMPANHIA DAS LETRAS



'Lavoura Arcaica' foi lançado em dezembro de 1975, é um texto em que se entrelaçam o novelesco e o lírico, por meio de um narrador em primeira pessoa - André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, conseqüentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, Lavoura arcaica foi imediatamente considerado um clássico.


Narra em primeira pessoa a história de André, que se rebela contra as tradições agrárias e patriarcais impostas por seu pai e foge para a cidade, onde espera encontrar uma vida diferente da que vivia na fazenda de sua família. Quando é encontrado em uma pensão suja em um vilarejo por seu irmão Pedro, passa a contar-lhe, de forma amarga, as razões de sua fuga e do conflito contra os valores paternos.

Sem ordem cronológica, André faz uma jornada sensível a sua infância, contrapondo os carinhos maternos e os ensinamentos quase punitivos do pai. Este valoriza acima de tudo o tempo, a paciência, a família e a terra, fiado na doutrina cristã. Mas André não aceita esses valores. Ele tem pressa, quer ser o profeta de sua própria história e viver com intensidade incompatível com a lentidão do crescimento das plantas. Nesse trajeto, a paixão incestuosa por sua irmã Ana, e sua rejeição, exercem papel fundamental na decisão de fugir da casa da família. A mãe desesperada manda o primogênito Pedro buscá-lo para tentar reconstruir a paz familiar. Trazido de volta para a fazenda, André é recebido por seu pai em uma longa conversa e uma festa que, ao invés de resolverem o conflito, evidenciam a distância intransponível entre as gerações. Por essa razão, a história é muitas vezes descrita como uma versão invertida da parábola do filho pródigo.



“O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; se medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza; não tem começo, não tem fim; [...]”






Filme brasileiro de 2001, baseado no livro de Raduan Nassar, dirigido por Luiz Fernando Carvalho: