quinta-feira, 21 de setembro de 2017

"VIVER EM PAZ PARA MORRER EM PAZ"; MÁRIO SÉRGIO CORTELLA - EDITORA PLANETA


Neste livro o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella discorre sobre assuntos importantes na nossa trajetória de vida. 

Não é ser famoso e nem acumular coisas e propriedades, em uma obsessão consumista. Importante é ser importante para alguém, ou seja, fazer falta para alguém.

Como na filosofia em si Cortella nos faz questionar sobre o sentido real da vida e seus valores.

Leitura recomendadíssima!


TRECHOS E FRASES:



"Afinal, viver em paz não é viver sem problema, sem encrenca, sem dificuldade. Viver em paz é viver com a certeza de que não está vivendo de forma morna!"


"Fazer falta significa que eu tenha ficado nas pessoas."


"O que apequena a vida? O desperdício de convivência, a incapacidade de ter algo que não seja superficial, a possibilidade de esquecer as noções importantes de vida que são: fraternidade, solidariedade, amorosidade."


"... pouca coisa é mais perigosa na existência do que o óbvio, essa âncora que paralisa o pensamento e induz à falsidade, à distorção, ao erro."


"Todo conhecimento e todo avanço vão contra o óbvio, contra tudo aquilo que ancora, que evita o progresso e o desenvolvimento humano. Sim, mudar é complicado, pois a mudança é contrária à imobilidade - e a imobilidade diversas vezes se esconde por trás da máscara traiçoeira da coerência. Os melhores artistas não são coerentes. São a antítese do óbvio... Há muitas maneiras de fugir do óbvio, e os melhores artistas são especialistas nisso."


"Nós nascemos crus e vamos nos fazendo."


"Dos vários modos que existem para aprender a viver melhor, um dos que mais aprecio é a escrita. Para escrever, é preciso pensar. Para escrever bem, é preciso pensar bem. Escrever ajuda a elaborar o mundo. A escrita tem funções que muita gente não imagina; é útil nas situações mais diversas e inusitadas. A humanidade faz isso há séculos: para espantar seus fantasmas, ela escrever."


"... o conflito é inerente à convivência humana - conflito é uma divergência de posição, de postura, de ideias, de atitudes. Conflitos são inevitáveis. O que não pode acontecer é que o conflito se transforme em confronto, que vem a ser a tentativa de anular o outro. Uma guerra nunca é um conflito; é sempre um confronto."


"A coerência contínua é sinal de loucura - uma das maiores características da loucura é nunca ter dúvidas, é pensar como faz e fazer como pensa."


"Convicção absoluta é loucura plena. Quem não tem dúvida faz sempre do mesmo modo. Quem tem dúvida se inova, se reinventa."


"Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza."


"Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra."


"Flexível é aquele que muda quando considera adequado mudar. Volúvel é aquele que muda por qualquer coisa. A nostalgia é a tristeza da mudança que conduz ao crescimento."


"Não é o erro, é a correção do erro que ensina."


"Para lidar com mudanças, você precisa, sobretudo, prestar atenção nas pessoas."


"Prestar atenção no outro de maneira sincera, eis um aprendizado que devemos procurar desenvolver nas nossas relações. Como estamos acomodados com o que somos, é o outro que nos ensina e nos liberta das nossas amarras e âncoras. Mas, para avançar, é preciso ser capaz de acolher aquele que não concorda comigo."


"Respeitar o time de futebol alheio é uma maneira soberba de ensinar a respeitar e a acolher as ideias, as posições e as perspectivas do outro."


"A divergência é admissível, e até desejável, mas ela nunca pode conduzir à anulação do outro, daquele que pensa diferente de você."


"... paz não é ausência de conflito ou inexistência de desacertos, e sim a capacidade de administrar as turbulências sem se perder."


"... pedras são apenas pedras, umas grandes, outras menores. São obstáculos a serem contornados. O que não pode acontecer é que as pedras se tornem barreiras. Pedras são fronteiras: elas demarcam um território de risco, mas não indicam impossibilidade."


"Gosto mesmo da ideia de amar o amor - a capacidade de guardar aquilo que me faz bem."


"Obedecer ao coração não é ser dominado pelo coração, não é excluir a razão. Obedecer ao coração é agir em equilíbrio, numa parceria, entre o coração e a razão. Para mim, o equilíbrio ideal é aquele da bicicleta, o equilíbrio que só existe quando se está em movimento."


"Para mim, equilíbrio não é um ponto estático entre dois opostos, não é estar no meio. É ir aos extremos e não se perder, seja na ciência, na religião, na política, nos experimentos, no erótico. É ser capaz de vivenciar os múltiplos territórios da vida sem neles se ancorar."


"Excesso de oferta muitas vezes é incapacidade de escolha. Quem transa com quem quer quando quer não é um libertário, e sim uma pessoa com sentimentos caóticos em relação às suas escolhas."


"Aquele que leva uma vida não crítica, ou sem critérios, não tem rumo, é um alienado. 
Por isso, o equilíbrio não está em vivenciar tudo e qualquer coisa, mas em saber fazer escolhas..."


"Se tudo tem validade, até a apreciação do mundo fica afetada. Gostar de qualquer comida ou de qualquer pessoa denota que a noção de gosto está prejudicada. Gostar, ter afeto, desejar sem critério só demonstra ausência de capacidade de entendimento."


"Apegar-se é olhar o outro como um igual, que deve ser preservado, e não como um estranho, que pode ser descartado."


"Não dizem que a diferença entre um jovem e um idoso é que o jovem tem tempo, mas não tem projetos, e o idoso tem projetos, mas não tem tempo? Sem projetos, não se defende o futuro."


"... apego impede que se fira aquilo que se ama, pois ferir o que se ama é ferir a si mesmo."


"O amor conduz a graça. A paixão é o ponto de partida, o impulso para o amor. A paixão, porém, é desgraçada. Como não tem controle sobre sua força e seu movimento, ela produz beleza como um vulcão, mas na sequência vem a destruição."


"É impossível pensar o mundo da filosofia sem pensar o mundo dos livros, pois ele se dá basicamente no campo teórico."


"Karl Marx estava certo ao dizer que o capital destruiu a família."


"O autoconhecimento é um processo necessário e fundamental para a melhoria de si mesmo - um processo interminável, pois tudo o que acontece à nossa volta nos afeta e nos transforma."


"A complexidade incomoda a humanidade."


"... pois é preciso haver a ausência, a carência, para valorizar a percepção do presente."


"A felicidade, assim como o erótico, precisa de latência para repousar e renascer."


"As pessoas não abraçam uma religião para se sentirem mais sábias, e sim para se sentirem mais fortes. Por isso, é inútil discutir religião. Não porque não se possa - pode, pois ela é também um sistema de ideias -, mas porque ela é, sobretudo, um sistema de crenças e forças. Por isso, discutir religião nunca é um debate teórico, seja sobre ideologia ou princípios. Discutir religião é tentar afrontar o que dá sentido à vida do outro."


"Isso é felicidade: sentir-se vivo. Há pessoas que se sentem felizes ao acumular riquezas. Outras, ao zelar pela família. Outras ainda ao curtir seus livros e suas plantas."


"Vida é vibração."


"Viver em paz para morrer em paz! Viver em paz não é viver sem problemas, sem atribulações, sem tormentas. Viver em paz é viver com a clareza de estar fazendo o que precisa ser feito, ou seja, não apequenar a própria vida e nem a de outra pessoa, ou qualquer outra vida. Viver em paz é repartir amizade, lealdade, fraternidade, solidariedade, vitalidade.
Morrer em paz é poder ter-se livrado das tentações da futilidade de muitos propósitos, recusado a atração pela vacuidade de intenções e afastado a indecência de uma vida apequenada, infértil e desértica."





sexta-feira, 8 de setembro de 2017

"RUÍDO BRANCO", DON DELILLO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS



Considerado um dos 1001 livros para ler antes de morrer Ruído Branco é o oitavo romance de DeLillo.

Conta a história de um professor universitário que vive com a família no Meio-oeste americano, numa cidadezinha que é evacuada depois de um acidente industrial. À luz de desastres como o da Union Carbide na Índia, que matou mais de duas mil pessoas e feriu outras milhares (e que acabara de ocorrer quando o livro foi publicado), Ruído branco mantém seu sentido atual e aterrorizante."A grande particularidade de Ruído branco é sua compreensão e percepção da trilha sonora dos Estados Unidos. 

O ruído branco inclui o som sempre presente do tráfego da auto-estrada, um murmúrio remoto e constante que contorna nosso sono, como almas mortas balbuciando nas margens de um sonho.Não é tanto com o caráter que DeLillo se preocupa: seu tema é basicamente a cultura, a sobrevivência e a interdependência crescente entre o eu e a comunidade nacional e mundial. O homem viril diante dos elementos, o fora-da- lei, o super-herói, existem no mundo moderno apenas como mitos; somos os elementos da natureza, um povo tecnologicamente orientado que nem por isso deixa de estar preso na peneira da história. No que DeLillo escreve existe o suspense e uma inteligência que questiona, um sentido simultâneo do círculo que se amplia e da malha fina da rede." The New York Times Book Review



TRECHOS E FRASES:


" - Por que a gente não pode encarar a morte de modo inteligente? - perguntei
  - A resposta é óbvia.
  - É?
  - Ivan Ilitch gritou durante três dias. É o máximo de inteligência a que se pode aspirar. O próprio Tolstói lutava para entender. Morria de medo."


" - Nossa consciência da morte não torna a vida mais preciosa?
  - De que vale a sensação de que a vida é preciosa se ela se baseia no medo e na ansiedade?"


"É para isso que serve a tecnologia. Por um lado, ela cria o apetite da imortalidade. Por outro, ameaça destruir toda a Terra. A tecnologia é a lascívia afastada da natureza."


"O medo é antinatural. O relâmpago e o trovão são antinaturais. A dor, a morte, a realidade, tudo isso é antinatural. Não suportamos estas coisas tais como elas são. Sabemos demais. Por isso apelamos para a repressão, as concessões, os disfarces. É assim que sobrevivemos no Universo. Esta é a linguagem natural da espécie."


"A pessoa passa a vida toda se despedindo dos outros. Como é que ela se despede de si própria?"


"Pela primeira vez compreendi o que era a chuva. Sabia o que era o úmido. Compreendi a neuroquímica do meu cérebro, o significado dos sonhos (o refugo das premonições)."


"Grandes emoções inomináveis latejavam em meu peito. Eu sabia quem eu era na rede de significados."


"Eu enxergava além das palavras."


"Os que não creem precisam dos que creem. Eles precisam desesperadamente que haja alguém que creia."


"Nossa tarefa no mundo é acreditar em coisas que ninguém mais leva a sério."