sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

"A MARCA NA PAREDE E OUTROS CONTOS"; VIRGÍNIA WOOLF - EDITORA COSACNAIFY



A Marca na Parede e Outros Contos reúne alguns dos textos curtos mais significativos da obra de Virginia Woolf. Escritos entre 1917 e 1941, as histórias foram produzidas, em sua maioria, no conturbado período do entreguerras, sob o impacto de mudanças cujos ecos tiveram efeito direto na experiência sensível da escritora. Em “Uma sociedade”, a autora refuta o lugar intelectualmente inferiorizado conferido às mulheres na época; “Segunda ou terça” narra impressões do cotidiano de maneira nada óbvia; “O vestido novo” mostra ao leitor a investigação típica de Woolf acerca do sentido e forma dos fluxos de consciência. Cada um destes contos dá provas da grande qualidade literária que fez de Virginia Woolf uma das mais importantes escritoras do século XX.



TRECHOS E FRASES:



"Oh, meu Deus, o mistério da vida! A inexatidão do pensamento! A ignorância da humanidade!" - Conto: A Marca na Parede


"Porque, se quisermos comparar a vida a alguma coisa, temos de equipará-la a ser levada pelo metrô a oitenta quilômetros por hora - desembarcando no outro extremo sem um único grampo no cabelo! Lançada totalmente nua aos pés de Deus! De pernas para o ar nas campinas de asfódelos como embrulhos de papel pardo jogados, no correio, pela calha abaixo! Com o cabelo voando para trás como o rabo de um cavalo de corrida. Sim, isso parece expressar a rapidez da vida, o gasto perpétuo e a perpétua recuperação; e tão por acaso, tão a esmo..." 
- Conto: A Marca na Parede


"Não haverá nada a não ser espaços de luz e escuridão, cruzados por pedúnculos grossos, e talvez bem altos, traços em forma de roseta de uma cor indistinta - rosas pálidos e azuis - que se tornarão, com o passar do tempo, mais definidos, mais - não sei o quê..." 
- Conto: A Marca na Parede


"A árvore perto da janela bate de leve na vidraça... Quero pensar com calma, em paz, espaçosamente, nunca ser interrompida, nunca ter de me levantar da cadeira, deslizar à vontade de uma coisa para outra, sem nenhuma sensação de hostilidade, nem obstáculo. Quero mergulhar cada vez mais fundo, longe da superfície, com seus fatos isolados, indisputáveis. Firmar-me bem, deixar-me agarrar a primeira ideia que passa... Shakespeare... Bem, tanto faz ele ou outro. Um homem que solidamente sentou-se numa poltrona e olhou para o fogo e assim... Uma chuva de ideias caiu perpetuamente de algum Céu muito alto para atingir sua mente." 
- Conto: A Marca na Parede


"Suponha-se que o espelho se despedace, que a imagem desapareça e que a figura romântica com o fundo verde da floresta a envolvê-la não esteja mais lá, mas apenas aquilo, a casca de uma pessoa que é vista por outras - que mundo raso, árido, proeminente e sem ar ela se torna! Não um mundo no qual viver."
- Conto: A Marca na Parede


"E o que é conhecimento? O que são nossos homens de saber senão descendentes de bruxas e eremitas que se acocoravam em grutas e nas matas preparando suas beberagens de ervas, interrogando musaranhos e anotando a linguagem das estrelas?"
- Conto: A Marca na Parede


"Seja como for, não faz mal ficar olhando uma marca na parede para pôr um ponto final em nossos desagradáveis pensamentos."
- Conto: A Marca na Parede


"Gosto de pensar na árvore em si: primeiro na íntima e seca sensação de ser madeira; depois na trituração pela tempestade; depois na lenta, deliciosa penetração da seiva. Gosto de pensar nisso também nas noites de inverno, quando me ergo no campo vazio com as folhas todas dobradas, fechando-me sem nada expor de sensível aos projéteis de ferro que vêm da lua, um mastro nu na terra que não para, ao longo de toda a noite, de rodopiar. O canto dos passarinhos deve soar muito alto e estranho em junho; e que frio devem sentir nos pés os insetos, quando fazem seus laboriosos avanços, subindo pelas rugas da casca, ou tomam sol sobre o toldo verde e fino das folhas, olhando reto para a frente com seus olhos vermelhos, cortados em forma de diamante... Uma a uma as fibras estalam sob a imensa pressão fria da terra e vem então o temporal mais recente e os galhos mais altos, caindo, cravam-se na terra de novo, e fundo. Nem assim a vida acaba; para uma árvore, ainda há um milhão de vidas pacientes e atentas em todo o mundo, em quartos de dormir, em barcos, no assoalho, forrando salas onde homens e mulheres sentam-se depois do chá para fumar seus cigarros."
- Conto: A Marca na Parede


"De pé na beira do canteiro de flores, o casal se mantinha imóvel, e juntos eles fizeram pressão para enfiar a ponta da sombrinha dela bem fundo na terra mole. Tal ação e o fato de ele ter a mão sobre a dela expressavam de um modo estranho seus respectivos sentimentos, como aquelas palavras curtas e insignificantes expressavam também alguma coisa, palavras com asas curtas para seu corpo tão prenhe de significados, inadequadas para levá-las longe e assim pousando desajeitadamente nos próprios objetos comuns que as circundavam e que a seu tato inexperiente eram tão maciças: mas quem sabe (desse modo pensaram eles, ao espetarem a sombrinha na terra) que precipícios não estão ocultos nelas, ou que encostas de gelo não estão brilhando ao sol do outro lado? Quem sabe? Quem já viu isso antes? Mesmo quando ela se perguntava que tipo de chá poderia ser servido em Kew, sentia ele que alguma coisa assomava por trás de suas palavras e por trás delas se mantinha, vasta e sólida; e muito lentamente a neblina se levantou revelando - oh, meu Deus -, que formas eram aquelas? - mesinhas brancas e também garçonetes que olharam primeiro para ela e depois para ele; e houve uma conta que ele pagaria com uma moeda real de dois xelins, real mesmo, totalmente real, garantia-se ele, pondo os dedos na moeda em seu bolso, real para todo mundo, a não ser para eles dois; aliás para ele já começava a parecer real; e aí - mas, sendo por demais excitante continuar de pé e pensando, ele puxou a sombrinha para fora da terra, com um safanão, e mostrou-se impaciente para achar o lugar em que se tomava chá em companhia dos outros, como os outros."
- Conto: Kew Gardens


"A fala é uma rede velha e rasgada, pela qual os peixes escapam quando é jogada neles. O silêncio talvez seja melhor. Venha até a janela, vamos tentar."
- Conto: Noite de Festa


"Coisa estranha é o silêncio. A mente se torna como uma noite sem estrelas; mas de repente um meteoro desliza, esplêndido, atravessando a escuridão, e se extingue. Por essa diversão, nunca dizemos suficientemente obrigado."
- Conto: Noite de Festa


"Pense bem a esse respeito, a literatura é o registro do nosso descontentamento."
- Conto: Noite de Festa


"Nossa insígnia de superioridade, nossa ambição de honrarias. Você há de admitir que gosta mais das pessoas descontentes."
- Conto: Noite de Festa


"É fácil confessar nossos erros. Mas que escuridão é tão fechada para ocultar nossas virtudes?"
- Conto: Noite de Festa


"... após examinar por um momento o vidro, como que em hesitação, o enfiara no bolso. Tal impulso poderia também ter sido o impulso que leva uma criança a apanhar uma pedrinha num caminho no qual elas se esparramam, prometendo-lhe uma vida em segurança e quentura sobre a lareira do quarto, deleitando-se com a sensação de poder e benignidade que uma ação como essa propicia e acreditando que o coração da pedra pula de alegria quando se vê escolhido, dentre um milhão de iguais, para gozar de tal felicidade, não de uma vida de umidade e frio na estrada."
- Conto: Objetos Sólidos


"Fascinado pelo contraste entre a porcelana, tão vívida e alerta, e o vidro, tão contemplativo e calado, ele se perguntou, pasmo e perplexo, como os dois tinham vindo a existir no mesmo mundo, para plantar-se, além do mais, no mesmo cômodo, na mesma estreita faixa de mármore. Mas a pergunta permaneceu sem resposta."
- Conto: Objetos Sólidos


"A vida é o que você vê nos olhos dos outros; a vida é o que as pessoas aprendem e, tendo aprendido, nunca, embora o tentem esconder, deixam de estar conscientes de - do quê? De que a vida é assim, ao que parece."
- Conto: Um Romance Não Escrito


"Contra a vida, nada melhor do que dobrar o jornal para fazê-lo um quadrado crespo, grosso, perfeito, impérvio até à própria vida."
- Conto: Um Romance Não Escrito

"Eles chegam mais perto; param na estrada. O vento sopra, a chuva escorre prateada no vidro. Nossos olhos se toldam; não ouvimos passos ao lado; não vemos mulher alguma abrindo sua fantasmal vestimenta. Já ele protege o lampião com as mãos. "Olhe só", sussurra. "Dormem a fundo. Com amor nos lábios."
Dobrando-se, mantendo acima de nós seu lampião de prata, longa e profundamente eles olham. Longa é a pausa que fazem. O vento impele certeiro; a flama enverga fragilmente. Fachos fortes de luar cruzam pelo chão e a parede e, ao se encontrarem, mancham as faces que se dobram; as faces que ponderam; as faces que revistam os dormentes e buscam sua oculta alegria."
- Conto: Casa Assombrada
"... que o objetivo da vida é formar boas pessoas e produzir bons livros [...] Um bom homem deve ao menos ser honesto, apaixonado e desinteresseiro."
- Conto: Uma Sociedade

"Como é bela a bondade em quem, pisando de leve, passa sorrindo pelo mundo."
- Conto: O Quarteto de Cordas

"Aproxima-se a noite, e o verde, varrido pela sombra, vai para cima da lareira; a superfície enrugada do oceano. Não há navios chegando; as ondas a esmo balançam sob o céu vazio. A noite avança; das agulhas agora pingam traços de azul. O verde ficou de fora."
- Conto: Azul e Verde

"Ah, que trágica essa ganância, esse clamor de seres humanos que, como um bando de cormorões, batem asas e berram a pedir simpatia - era trágica, caso se pudesse realmente sentir, e não apenas fingir que se sentia tal coisa!"
- Conto: O Vestido Novo


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

"ESPERANDO GODOT"; SAMUEL BECKTT - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS



Expoente do Teatro do Absurdo, escrita em 1949 e levada aos palcos pela primeira vez em 1953, Esperando Godot é uma tragicomédia em dois atos que segue desafiando público e crítica. Na trama, duas figuras clownescas, Vladimir e Estragon, esperam por um sujeito que talvez se chame Godot. Sua chegada, que parece iminente, é constantemente adiada. Em um cenário esquálido — uma estrada onde se vê uma árvore e uma pedra —, Beckett revoluciona a narrativa e o teatro do século XX. 



TRECHOS E FRASES:


"Eis o homem: Jogando no sapato a culpa dos pés."


"Vladimir: Você devia ter sido poeta.
  Estragon: E fui. (Indicando os farrapos com um gesto) Não está na cara?"


"Quanto mais gente conheço, mais feliz eu fico. Até da mais humilde das criaturas nós nos despedimos mais sábios, mais ricos, mais seguros de nossas bençãos."


"As lágrimas do mundo são em quantidade constante. Para cada um que irrompe em choro, em outra parte alguém para. com o riso é a mesma coisa."


"O que poderia fazer, digo a mim mesmo, para que o tempo lhes pareça menos arrastado? Dei lhes ossos, falei disto e daquilo, troquei em miúdos o crepúsculo, são favas contadas. Mas será que basta, é a questão que não cala, será que basta?"


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

"NA MINHA PELE"; LÁZARO RAMOS - EDITORA OBJETIVA


Como escreve o próprio Lázaro este livro não é uma biografia. Trata-se de uma leitura bastante interessante que fala de forma abrangente sobre preconceito e discriminação racial, com uma base de pesquisa ampla e extensa (incluindo suas próprias vivências). Vem trazendo uma proposta de maior observação e vigilância na nossa conduta em relação ao outro.

Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação. 
Ainda que não seja uma biografia, em Na minha pele Lázaro compartilha episódios íntimos de sua vida e também suas dúvidas, descobertas e conquistas. Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismos, Lázaro nos fala da importância do diálogo. Não se pode abraçar a diferença pela diferença, mas lutar pela sua aceitação num mundo ainda tão cheio de preconceitos. 


TRECHOS E FRASES: 


"Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça."


"A linha que costura este livro é a minha formação sobre esse tema, mas que, no fundo, é só um artifício para falar de todos nós."


"Toda boa viagem começa numa ilha, pelo menos pra mim. Amo as ilhas como amo me lembrar das mãos da minha mãe."


"Na ilha, o conceito de beleza era o nosso. Cresci com minha mãe e minhas tias dizendo que eu era lindo. Não tinha ideia se seria discriminado ou se as minhas escolhas ficariam mais difíceis por causa da cor da minha pele. O que eu entendia eram as limitações de uma família com pouco dinheiro."


"Por isso, digo sempre aos meninos e meninas que têm origem parecida com a minha: não há vida com limite preestabelecido. Seu lugar é aquele em que você sonhar estar."


"Minha mente entorta quando penso no tanto que a mentalidade escravagista ainda molda as relações patrão / empregado."


"Às vezes, para ser mito, basta fazer silêncio e a cara certa."


"Entretenimento e reflexão andam juntos."


"Mas quem é negro como eu sabe que a cor é motivo de discriminação diária, sim."


"O orgulho de minhas origens, porém, não se sobrepôs a um grande ensinamento que recebi em casa: o de não estimular a separação."


"Nomear é importante, é um exercício para não perdermos os atributos que nos distinguem, para provocar empatia com o outro. Um simples nome - como Cláudia - pode revelar a dimensão humana de alguém, gerando empatia e, consequentemente, valorização."


"Quase sempre, percebia que eu era o único negro dentro de um bar ou de um restaurante. Assim como no colégio, eu era a exceção."


"Antes de tudo, tinha certeza de que não precisava falar o tempo todo de discriminação. Não queria ser chato, queria apenas ser ouvido.
[...] Nunca em tom agressivo. A delicadeza era consciente mesmo. Foi o caminho que achei, não sei se melhor ou pior, mas foi o que era possível para mim. Quanto mais o tempo passava, mais eu sentia que eles prestavam atenção no que eu falava. Eu não estava fazendo uma panfletagem explícita. Hoje em dia de vez em quando, acho importante falar para incomodar. Mas naquele momento, decidi que existiam questões que não precisavam ser ditas, tinham de ser pensadas."


"E assim se desenvolveu uma carreira cujas informações você pode acessar em blogs, sites e entrevistas. O que não está disponível nesses lugares é algo que permaneceu comigo durante todo esse tempo, algo sensorial e difícil de descrever com palavras. Os desafios de ascender socialmente e se inserir em outra realidade sendo uma exceção."


"Mas não me desfaço da frase, ainda acredito que o lugar de cada um é aquele onde ele deseja estar."


"Quando nos prendemos muito a esse elogio da história pessoal ("ela veio da favela e conseguiu"), corremos o risco de dizer que o outro não conseguiu porque não quis, e isso não é verdade."


"Precisamos ter nossos registros, principalmente porque nossa cultura é muito oral e foi desprezada por décadas e mais décadas pelos que escrevem oficialmente a história."


"Nem tudo na vida é organizadinho e óbvio. A questão racial nos afeta sem às vezes nos darmos conta. Todo mundo conhece alguém que foi discriminado, mas numa roda ninguém levanta a mão para se dizer racista."


"Inundar uma criança com referências positivas sobre seu lugar no mundo é o primeiro passo para aumentar sua autoestima."


"A ideia da raça negra como sinônimo de degeneração parece ter perdurado."


"A equação não é simples, o fato de inserir o negro de forma positiva na mídia não significa que a sociedade o aceitará melhor."


"A escravidão mantinha de forma clara o papel de cada um na sociedade. Foi quando a escravidão começou a dar sinais de que iria terminar que o negro passou a ser uma preocupação."


"A imagem do negro ainda está muito ligada à pobreza. Então, em parte, há uma certa resistência do ponto de vista mercadológico a colocar negros em propagandas. E outra coisa é que a publicidade, do ponto de vista cultural, reflete as relações hierárquicas presentes na sociedade. Enquanto o negro for excluído e discriminado em todos os setores, não será maioria nos comerciais de TV, outdoors e anúncios de revistas e jornais. A publicidade não virá como elemento de vanguarda que vai mudar a imagem do negro perante a mídia. Ela vai mudar à medida que a sociedade for mudando sua resistência em relação ao negro."


"Muitas vezes o racismo faz com que a gente não trilhe nosso caminho e comece a pautar nossas ações pela demanda do preconceito. Às vezes não seguimos adiante porque paramos nos limites impostos pela sociedade, e nós temos que caminhar mais, temos que entender a complexidade das coisas, das pessoas, temos que ter liberdade. Até onde isso é uma ação ou uma resposta ao preconceito? Estou buscando a liberdade ou respondendo aos limites que o racismo me impõe? Quero crer que escolhi uma maneira de não viver pela demanda do racismo. Ao não aceitar caixas que seriam mais facilmente adaptáveis, busco a libertação."


"Olhar para o outro co desejo, potencializar o afeto por meio do toque, tudo isso traz autoestima e conforto. A morte pela solidão, por não receber um olhar de carinho, de desejo, é trágica."


"Exercite o olhar, sem preconceber nada."




Vídeo citado no livro:


Os efeitos do racismo em crianças.
O "teste de boneca" é uma experiência psicológica projetada na década de 1940 nos EUA para testar o grau de marginalização sentida por crianças afro-americanas causadas por preconceitos, discriminação e segregação racial. Dado o aumento considerável do fenômeno da migração na Europa nos últimos anos, decidimos recriar o teste com crianças italianas. Na verdade, milhares de migrantes pousam todos os anos na costa do Mediterrâneo em busca de um futuro melhor, alguns para melhorar suas condições econômicas, outros são refugiados políticos, fugindo de zonas de guerra, discriminação e às vezes perseguição étnica, religiosa ou política. 2015 foi considerado o ano da "invasão" que ameaçou acabar com os equilíbrios sociais, econômicos e culturais na Europa. A vigilância cada vez mais estreita das fronteiras e fronteiras poderia determinar, no entanto, um risco para aniquilar definitivamente qualquer possibilidade de diálogo ou integração. Em todos os países europeus vivem muitos migrantes de segunda, terceira e quarta geração, que agora são cidadãos de pleno direito dessas nações, como essas crianças italianas. No entanto, para muitos, eles permanecem "diferentes", "estrangeiros", uma definição perigosa que, nos últimos tempos, poderia ser conjugada de forma ilegítima com o fenômeno do terrorismo. Sem uma séria mudança política e social em perspectiva, corremos o risco de distorcer perigosamente a percepção que temos dos outros e a percepção de que os outros têm de si mesmos.