sexta-feira, 9 de junho de 2017

"A RESISTÊNCIA", JULIÁN FUKS - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS



“Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adotado.”, escreve, logo na primeira linha, Sebastián, narrador deste romance. Como em diversas obras que tematizam a Guerra Suja — o regime de terror inaugurado em 1976 na Argentina —, A resistência envereda pela memória pessoal e nacional.

Sebastién é o filho mais novo, e seu irmão adotado, o primogênito de um casal de psicanalistas argentinos que logo buscarão exílio no Brasil. Os pais conhecem bem as teorias sobre filhos adotados e biológicos (Winnicott, em especial), mas a vida é diferente da bibliografia especializada. Cabe então ao narrador o exame desse passado violento e a reescritura do enredo familiar. O resultado, uma prosa a um só tempo lírica e ensaística, lembra belos filmes platinos como O segredo dos seus olhos.



TRECHOS E FRASES:


"Que força tem o silêncio quando se estende muito além do incômodo imediato, muito além da mágoa."


"Ter um filho há de ser, sempre, um ato de resistência. Talvez a afirmação da continuidade da vida fosse apenas mais um modo de se opor à brutalidade do mundo."


"Mas há pesares que não sucumbem a argumentos, há dores que não se exageram. Há histórias que não se inventam à mesa, entre goles e garfadas,  entre papos quaisquer, histórias que recusam a proximidade com a leveza, que não se prestam à ruminação corriqueira, às frases diárias. Há casos que não habitam a superfície da memória e que, no entanto, não se deixam esquecer, não se deixam recalcar. No espaço de uma dor cabe todo o esquecimento, diz um verso sobre estas coisas incertas, mas os versos nem sempre acertam. Às vezes, no espaço de uma dor cabe apenas o silêncio. Não um silêncio feito da ausência das palavras: um silêncio que é a própria ausência."


"Nas páginas desse discurso conheci algo mais: a atrocidade de um regime que mata e que, além de matar, aniquila os que cercam suas vítimas imediatas, em círculos infinitos de outras vítima ignoradas, lutos obstruídos, histórias não contadas - a atrocidade de um regime que mata também a morte dos assassinados."


"É preciso aprender a resistir. Nem ir, nem ficar, aprender a resistir,"


"Um dia tudo é provisório."


"Como é imensurável o tempo da inação, o tempo da distância, o tempo do silêncio, como é diferente deste tempo do encontro, das vozes que se cruzam, dos rostos que se veem."





VÍDEO:


Booktrailer: "A resistência", de Julián Fuks pelo canal da Companhia das Letras.






quarta-feira, 24 de maio de 2017

"BONECAS RUSSAS", ELIANA CARDOSO - EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS



Desde pequena, Leda foi tímida e sonhadora. Adorava lendas e colecionava mitos. Tendo herdado o interesse, mas não o talento artístico da mãe, tornou-se dona de uma galeria de arte. Já Lola sempre foi decidida e mandona. Obcecada por teatro, escrevia e distribuía papéis entre as amigas para as pequenas produções que seriam apresentadas nos aniversários. Quando cresceu, virou jornalista. 'Bonecas russas' é a história de Lola e de Leda, mas é também a história de Francisca, mãe de Leda, que a abandonou quando criança e nunca conseguiu restabelecer uma relação saudável com a filha. É a história de Odete, mãe de Lola, que se envolveu em um escândalo acompanhado por toda a cidadezinha de interior em que morava. É a história de Rosália, irmã de Francisca, a tia solteira que acabaria por criar as duas meninas juntas. E é a história de Miranda, filha do primeiro casamento do marido de Leda, que cresceria e também se tornaria jornalista, como Lola. O resultado é um emaranhado de relações que nem sempre são sempre claras, ideais ou mesmo construtivas, mas que vão se desdobrando até a revelação dos mistérios que cada uma dessas seis mulheres pretendera guardar apenas para si. Em sua estreia na ficção, Eliane Cardoso cria uma narrativa inteligente, original e surpreendente, composta de múltiplas vozes, todas especiais à sua maneira.



TRECHOS E FRASES:



"A posição natural do homem é a de flutuar no lugar que lhe sobra no meio dos anjos e demônios. Dessa forma, extrapola a própria mediocridade aquele que, quando tenta agarrar o nada, se torna gigantesco. E quando avança rumo ao infinito, enxerga a própria insignificância e percebe que a menor distância é insuperável. No meio dos anjos e demônios, ele entende que sua vida é ínfima, desnecessária, passageira. Comparados ao infinito, oitenta anos ou oitocentos são o mesmo que nada. Do ponto de vista da eternidade já estamos mortos ao nascer."


"O homem planeja seus passos e o diabo os embaralha."


"... felicidade é isso: aquele momento em que o tempo para. Quando acontece, me encanto."


"Vai. Mas verás que a saudade é como erva daninha. Arrancas. E ela brota de volta."


"Minhas alegrias e tristezas pertencem a esse mundo."


"... os alicerces dos nossos amores se compõem de antipatias: sem algo para odiar, faltaria a mola que impulsiona a paixão. " Sem paixão, a vida se transforma numa poça d'água estagnada"... "Como a réstia de luz precisa da escuridão, só a maldade torna possível a ternura.""


"Veja como a sociedade se comporta. Transforma a religião em fanatismo e o patriotismo em guerra. Qualquer pretexto nos basta para tentar estraçalhar o vizinho. O patriotismo nos faz amar os brasileiros? Não. Exige apenas o ódio a americanos e argentinos. O amor à virtude desperta o desejo de corrigir suas próprias faltas? Não. Apenas alimenta sua indignação contra o vício alheio."


"Cada um, e mais ninguém, sabe quem é o seu Shakespeare ou o Tiziano que lhe ilumina a alma."



sexta-feira, 21 de abril de 2017

"SYBIL", FLORA RHETA SCHREIDER - EDITORA CÍRCULO DO LIVRO



Sybil é um livro escrito pela jornalista estadunidense Flora Rheta Schreiber e publicado em 1973, a história de uma mulher (identificada anos depois como Shirley Ardell Mason), que sofria de transtorno dissociativo de identidade e teve 16 personalidades diferentes.

Um livro forte, uma leitura intensa com algumas passagens difíceis de serem lidas pela intensidade das situações vividas pela personagem. Uma história comovente e que pode ser de grande interesse para quem tem curiosidade sobre assuntos de psicologia, psicanálise e transtornos mentais.

Sybil é a história da psicanálise das dezesseis personalidades de Sybil, levada a efeito durante onze anos e a única psicanálise de uma personalidade múltipla até então realizada. Esta narrativa vigorosa e absorvente acompanha o desenrolar estranho e angustioso da história das muitas facetas de Sybil - envolvendo a reconstituição dos primeiros e chocantes anos de sua vida, até a integração das muitas personalidades numa única. Baseado em horas de conversa com as principais personagens, em notas feitas pela Dra. Wilbur, durante a análise, em diários e ensaios de Sybil, em gravação das pretensas personalidades verdadeiras e na acareação com cada uma das dezesseis personalidades de Sybil. Este livro conta a história da luta desesperada de uma mulher que quer voltar a ser uma só.




TRECHOS E FRASES:


"A vida tem tanta dor que a gente precisa fazer uma catarse. Não quero, com isto, dizer que seja uma fuga. A gente não consegue fugir da realidade por meio dos livros. Pelo contrário, eles ajudam a perceber com mais amplitude o que a gente realmente é. Mon Dieu, graças a Deus que os tenho. Quando me acho numa situação em que não gostaria de estar - devido às circunstâncias peculiares da minha vida -, então tenho esta saída. A senhora pode me julgar trés supérieure, mas, na realidade, eu não sou; sou exatamente aquilo que sou, e vivo a vida da maneira como quero."






FILME: